terça-feira, 28 de junho de 2011

Jardim Elétrico

Durante uma horinha de almoço aqui no trampo, folheei uma revista e encontrei essa materia. Achei interessantíssimo e estou aqui, mais uma vez, para compartilhar tudo com vocês.
A entrevista saiu na revista sãopaulo (com letra minúscula mesmo) em junho de 2011, e foi feita pela repórter Kátia Lessa.
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Conheça quem ajuda a produzir a agitação cultural paulistana
KÁTIA LESSA
DE SÃO PAULO

Eles não estão por trás dos mega-eventos que atraem a massa paulistana, como shows em estádios lotados ou exposições que levam milhares aos museus. Mas as mostras, as festas e os festivais que organizam cumprem o papel de ditar tendências e sintonizar a cidade com o que acontece de mais novo no resto do mundo.
Eles são os agitadores culturais de São Paulo: uma turma que vem contribuindo para a efervescência de áreas como música arte e noite.
Os efeitos dessa movimentação já são sentidos internacionalmente. Neste ano, São Paulo venceu o ranking Zeitgeist, que elege “a cidade para se estar em movimento”. A escolha é feita com a ajuda de jovens do mundo todo, tidos como referencias em suas áreas.
Para os paulistanos, pode ser difícil imaginar que uma cidade com problemas crônicos como trânsito caótico e violência deixe para trás metrópoles como Nova York, Berlim e Tóquio.
Mas Stan Stalnaker, 37, que promove o ranking, vê aqui moradores “confiantes” e com “senso de oportunidades”, que, segundo ele, fazem a diferença. [...]
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KICHI KX E AS BALADAS DA LUA CHEIA
Marcos kishimoto, 40, o Kichi Kx, faz festa
de rock ou hip-hop.



Ex-holdie das bandas Sepultura e Ratos de Porão, Marcos Kishimoto, 40, o Kichi Kx, começou a fazer festas em São Paulo ainda nos anos 1990, para ganhar um dinheiro extra quando os músicos não estavam em turnê.
A ideia deu tão certo que hoje ele é dono de um mailing com mais de 3.000 pessoas que não perdem suas festas de rock ou hip-hop em lugares badalados como Galeria Ouro Fino, Vegas, Glória e Clash.
Kichi acredita que o paulistano está sempre atrás de novidade. "É difícil conquistar a confiança do público. A noite está tão frenética que você corre o risco de ser atropelado."
Ele diz que quem mora aqui não gosta de pegar fila e não tolera festa sem mulher. E garante que as melhores baladas têm influência do céu. "Nas noites de lua cheia, acontecem as festas mais loucas", diverte-se.
O grande feito: "Promover noites de black music disputadas no [clube] Milo Garage"
Seu lugar em SP: "Ainda não existe"



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MAURÍCIO GARCIA E O CELEIRO DA MPP
Maurício Garcia no Studio SP
"A cena musical que não aparece na TV está bombando. É só ir para a rua", diz Maurício Garcia, 35. O paulistano é gerente artístico do Studio SP, cartão-postal do Baixo Augusta e celeiro da chamada nova música popular paulistana, apelidada de MPP.
Por lá, passaram nomes como Tulipa Ruiz, Tiê, Nina Becker, Instituto, Céu, que tocam no clube desde o início da carreira. Apesar de trabalhar na casa desde 2006, quando cuidava do caixa, Maurício só passou a pilotar a agenda musical em 2009.
"Noto que, cada vez mais, a diversão do paulistano é a noite. O cenário está tão aquecido que os músicos conseguem viver bem no circuito alternativo, sem ter de tocar no Faustão", afirma.
Para equilibrar a vida notívaga --ele só acorda depois das 13h-- Maurício costuma pedalar à tarde. E, quando está em casa, ouve os CDs de bandas iniciantes que recebe
todas as noites na balada.
"Antes mesmo de tomar café da manhã, já coloco um disco para tocar. Não dá pra perder tempo", diz.
O grande feito: "Ter trabalhado na coordenadoria da juventude do município de São Paulo [até 2005]"
Seu lugar em SP: "O museu Afro Brasil"

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PAOLA WESCHER E OS SHOWS DO MUNDO INDIE
Paula Wescher, 33, é a responsável por incluir SP
na rota de bandas mais quentes do mundo indie.

Ela quer ajudar a música independente de hoje a virar o pop do amanhã. A curitibana Paola Wescher, 33, é a responsável por incluir São Paulo na rota das bandas mais quentes do mundo indie na atualidade.
É ela quem negociou apresentações de artistas como LCD Soundsystem, Miles Kane, OK GO!, The Hives e Friendly Fires por aqui. "O mercado está agitadíssimo. De 2005 até o ano passado, entrava em contato com no máximo cinco bandas por ano. De 2010 para 2011, negocio quatro por mês", conta.
O segredo do sucesso, ela garante, é fazer parte do público. "Quando, além de empresária, você gosta do assunto, fica mais fácil identificar o que os fãs querem."
Aos 22 anos, Paola negociou a vinda do Pixies para o Brasil. A volta da banda americana, que havia se separado em 1993, foi um show histórico para 8.000 pessoas em Curitiba. Pouco tempo depois, ela tentou repetir a façanha com o Weezer, mas o resultado foi amargo: a venda de ingressos ficou abaixo do esperado. "Tinha 23 anos e uma dívida de
R$ 500 mil. Passei dois dias trancada num quarto de hotel para pensar no que fazer." A operação para saldar o débito incluiu a venda de seu carro e a ajuda de pais e amigos.
Hoje, ela agencia bandas para eventos corporativos, shows e festivais alternativos -como o Popload Gig, do qual é sócia-, abriu uma empresa de conteúdo musical e tem participação em uma nova casa de shows que deve abrir ainda neste ano.
O grande feito: "O festival Popload Gig; o plano é chegar à oitava edição até o final do ano [já foram cinco]"
Seu lugar em SP: "O bairro da Liberdade"

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FERNANDO SAPUPPO E O "LIFESTYLE" PAULISTANO
Fernando Sapuppo, 32, é o responsável pela programação
cultural do espaço multidiciplianar Cartel 011
O amor pela cidade aparece até no nome do Cartel011, espaço multidisciplinar no número 517 da rua Arthur de Azevedo, em Pinheiros. Os donos, Fernando Sapuppo, Daniel Ueda e Cristian Resende, resolveram investir na expertise em cultura urbana que há por aqui e chacoalhar a auto-estima do paulistano. "Tinha muito coisa bacana rolando, mas as pessoas só falavam do tal 'lifestyle carioca'", conta Fernando, 32, responsável pela programação cultural do lugar.
O Cartel começou como um espaço colaborativo de trabalho, que abrigava profissionais de áreas como design, mídia interativa e arquitetura. Hoje, eles fazem exposições de jovens artistas, têm um salão de beleza e uma loja que vende apenas linhas limitadas de produtos e alugam o espaço para eventos diurnos -sempre lotados. As festas são ações de marcas que desejam se alinhar à linguagem urbana da casa, como Absolut e Adidas. E o Cartel não para. Até outubro desse ano, eles vão abrir também um restaurante.
Para Fernando, agora é a hora e a vez de São Paulo. "Sinto que o mundo todo está de olho na gente. A internet revelou que não somos seres da selva, e sim habitantes de uma cidade que pulsa 24 horas por dia."
O grande feito: "O Cartel011"
Seu lugar em SP: "O Ibirapuera, para ficar largado na grama"

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CHECHO GONZÁLES E A GASTRONOMIA NA MADRUGADA
Checho Gonzales, 44, criou uma taqueira
ambulante
É com um tempero latino que o boliviano Checho Gonzales, 44, forra o estômago dos baladeiros da cidade. Depois de passar pelas cozinhas dos restaurantes D.O.M., Singapura e Ají (sua antiga casa na rua Bela Cintra, fechada em setembro do ano passado), o chef começou a investir em comida para eventos.
Misturou os segredos da cozinha da mãe --a quem observava no fogão em La Paz-- com a comida de rua de Los Angeles e criou uma taqueria ambulante, que vendia tacos por R$ 8.
O carrinho, um triciclo cheio de charme,abasteceu o estômago dos frequentadores de baladas como o Lions Club, das festinhas da loja de bicicletas Tag and Juice e das noitadas no bar
Z Carniceria. O sucesso da gastronomia da madrugada foi tanto que até integrantes da banda americana Gogol Bordello o convidaram para ser chef da trupe durante a última turnê no Brasil.
O convite foi recusado porque Checho anda cheio de novas ideias. Até o fim do ano, vem aí a Cevicheria Gonzales, um quiosque móvel especializado em pratos típicos latino-americanos como tacos, ceviches e anticuchos, além de uma tarde fixa no estúdio de tatuagem e galeria Soul Tattoo, na rua Oscar Freire. "Vou reformar o triciclo porque ele é muito pesado para as ladeiras de São Paulo."
O grande feito: "Ainda está por vir"
Seu lugar em SP: "O [bar] Z Carniceria, para beber e encontrar os amigos"

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JULIANA FREIRE E OS ARTISTAS NOVATOS
Juliana Freire, 33, fundadora da galeria
Emma Thomas
Juliana Freire, 33, nunca se sentiu à vontade com o clima pacato do interior de Minas Gerais, onde nasceu. Cursar artes plásticas em Belo Horizonte também não foi o suficiente
para extravasar sua inquietação.
Foi então que ela resolveu se mudar para São Paulo, em 2002, para tentar um emprego na área de moda. Trabalhou na marca Zoomp e, paralelamente, criou a galeria Emma Thomas, em 2006, em uma pequena casa em Pinheiros. Em 2009, migrou, com a sócia, Flaviana Bernardo, para um galpão no número 216 da rua Barra Funda. "Fomos a Berlim e ficamos chocadas com a forma despretensiosa com que a cidade convive com a arte. Os espaços são menos intimidadores. Tinha a nossa cara."
Hoje, a Emma Thomas cuida de jovens artistas como Laerte Ramos, Márcio Simnch e Rodrigo Borges. "O mercado está muito bom. São Paulo está formando uma classe de jovens colecionadores que pararam de comprar cadeiras de R$ 10 mil e preferem investir em gravuras de R$ 600. É um momento importante de mudança de mentalidade."
As vernissages organizadas por ela não são as clássicas, em que os convidados empinam o nariz enquanto empunham taças de espumante. Muitas acontecem ao som de DJs como o inglês Mark Ronson e de bandas de rock. Forma-se até fila na porta.
O grande feito: "A galeria Emma Thomas, com minha sócia Flaviana Bernardo"
Seu lugar em SP: "A Pinacoteca do Estado"

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MARCOS GUZMAN E OS "HAPPENINGS"
O ex-publicitário Marcos Guzman, 36, tem como marca
registrada música, arte e tecnologia
Foi sem querer que o ex-publicitário Marcos Guzman, 36, caiu no mundo da produção artística. Depois de visitar um festival mexicano, em 1999, ele resolveu trocar de profissão.
Aos poucos, decidiu que trabalharia com eventos ligados a três pilares, sua marca registrada: música, arte e tecnologia. A escolha chamou a atenção de marcas internacionais e ele passou a fazer direção artística para diversos festivais.
Depois de trabalhar na Virada Cultural, tomou gosto por eventos ao ar livre em locais importantes da cidade.
A Sunset Party, que está na sétima edição, acontece no MIS (Museu da Imagem e do Som; av. Europa, 158), das 16h às 22h, mas não tem periodicidade
fixa. Por lá, circulam, em média, 4.000 pessoas, entre elas crianças e gente que já deixou a noitada de lado. A música é um eletrônico experimental. "Não é uma balada. É um 'happening'. Peço para não colocarem o som no máximo para que as pessoas consigam conversar no jardim", diz.
Para Marcos, o sucesso da festa se deve a dois fatores: a deterioração dos espaços públicos e o fato de ser gratuita. "Tem muita gente que quer encontrar os amigos sem gastar e ouvir esse tipo de música sem ter de ficar enfiado em um buraco escuro às 5h da manhã."
O grande feito: " Trazer o DJ francês Joakim para musicar um filme mudo na Mostra Internacional de Cinema, em 2004"
Seu lugar em São Paulo: "O planetário do Ibirapuera"

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Ebulição em números

São Paulo tem:
12,5 mil restaurantes de 52 cozinhas diferentes
299 salas de cinema
160 teatros
110 museus
40 centros culturais

Os principais eventos e o público de cada um:
Virada Cultural
4 milhões (2011)
Parada LGBT
3 milhões (2010)
Salão do Automóvel
750 mil (2010)
Bienal do Livro
740 mil (2010)
Bienal Internacional de Arte de São Paulo
740 mil (2010)
Mostra Internacional de Cinema
200 mil (2009)
GP Brasil de Fórmula 1
110 mil (2010)
Carnaval (sambódromo)
110 mil (2011)
SP Fashion Week
70 mil (jan.2011)
Adventure Sports Fair
61 mil (2009)

(fonte: Revista SãoPaulo, Junho de 2011, pg 26)

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